Por sua enorme condutividade, resistência à corrosão, flexibilidade e durabilidade, os cabos estanhados são imprescindíveis nas instalações elétricas dos barcos. O estanho é um metal branco, prateado, maleável, pouco dúctil e de baixo ponto de fusão. Desde a antiguidade tem sido usado para a produção de diversas ligas metálicas, como a de estanho-cobre, devido à sua capacidade de endurecer o cobre para produzir o bronze. Por isso, foi amplamente utilizado para produzir armas e utensílios desde 3500 a.C.
Outra excelente propriedade do estanho é sua capacidade de proteger as ligas metálicas da corrosão. Quando folhas de ferro são mergulhadas em estanho, forma-se, na sua superfície, uma liga de ferro e estanho. Obtém-se, assim, a folha-de-flandres, popularmente chamada de lata, usada extensivamente na indústria alimentícia para acondicionar todo tipo de alimentos e bebidas. A liga com estanho ajuda a conservar o conteúdo e evita a corrosão da própria lata, mantendo o produto inalterável.
Por todas essas ótimas aplicações, o estanho passou a ter grande importância e ser largamente utilizado no cenário internacional, além de embalagens de alimentos e acessórios culinários, em centenas de processos industriais, nas telecomunicações, nos equipamentos elétricos (fios) e eletrônicos, em revestimentos anti-corrosão (quando em liga com o zinco, misturados ao aço) e em soldas.
No ambiente marítimo, os cabos e fios das instalações elétricas sofrem naturalmente com a umidade e a infiltração, que rapidamente os corrói e oxida, principalmente nos terminais. Isto gera falta de contato e, consequentemente, uma enorme perda de condutividade após alguns meses de uso.
Há inúmeras ocorrências de embarcações que naufragaram porque que a bomba de água não funcionou. Na maioria das vezes, o infortúnio não foi causado pela falha mecânica do equipamento, e sim pela falta de contato. Os automáticos das bombas de porão e a própria bomba, bem como os cabos que levam a corrente elétrica necessária para o seu perfeito funcionamento, estão constantemente em contato direto com a maresia e a água do mar. Dessa forma, todo esse sistema somente será seguro se os cabos possuírem qualidade técnica e forem impermeáveis para atuar nesse ambiente úmido. Somente os cabos estanhados foram projetados para tal.
Além do uso de cabos estanhados em toda a parte elétrica de uma embarcação, as conexões devem ser soldadas (as soldas também levam estanho) em vez de se utilizar um simples conector. Isso garante ainda mais a conectividade e a proteção contra os efeitos da corrosão.
Um exemplo que ilustra bem a necessidade dos cabos estanhados é o guincho elétrico de âncora. Trata-se de um equipamento que solicita muita amperagem quando em funcionamento. É instalado na proa do barco e a alimentação (energização) vem das baterias, que normalmente estão na popa da embarcação. Portanto, estamos falando de um equipamento que opera num extremo oposto da fonte de energia, onde os cabos têm que ser adequados e muito bem dimensionados, senão podem não conduzir a corrente necessária ao motor do guincho e provocar superaquecimento.
Se mesmo assim isso não o convencer, saiba que todo sistema de partida dos motores, ao serem acionados, “puxam” por alguns segundos uma amperagem extrema da bateria através dos seus cabos. Se eles não forem bem dimensionados – ou até superdimensionados – para a tensão necessária ou estiverem oxidados, com certeza não irão suportar a simples operação de ligar o motor, podendo derreter e colocar em risco a segurança da embarcação.
Por isso, nas embarcações, é imperativo que todos os circuitos elétricos devam ser construídos exclusivamente com cabos estanhados. Cada vez mais, não somente os equipamentos de navegação – tais como GPSs, sondas, radares, entre outros – mas também os de informação e orientação – como conta-giros, amperímetros, voltímetros, marcadores de pressão de óleo e luzes de navegação, circuitos impressos de acessórios etc. – são construídos com alta tecnologia e somente podem operar satisfatoriamente e fielmente quando são energizados na máxima potência requerida e com a voltagem correta e, principalmente, contínua. Somente os cabos estanhados podem manter essa performance ao longo dos anos.
Tecnicamente falando
Todo bom cabo estanhado usa filamentos de cobre revestido de estanho pelo processo de eletrólise e isolados com cloreto de polivilina (PVC) resistente a 105o C, superior até ao determinado na norma NM-247, que é de 70o C.
O cabo estanhado pode ser torcido (de acordo com a classe 5), proporcionando enorme flexibilidade e resistência à fadiga do material. E são dimensionados para suportarem tensões nominais de até 750 Volts.
Existem dois tipos básicos de cabos estanhados: os de uma via (1 condutor) e os PPs.
Os cabos de uma via são os compostos de um único condutor. São formados por fios de cobre estanhados eletroliticamente, têmpera mole, encordoamento classe 5 (extra-flexível), isolados com cloreto de polivinila (PVC), tipo PVC/EB 105o C. O fio elementar inicia com o diâmetro de 0,20 mm, podendo chegar a 0,32mm, dependendo do cabo que vai formar (de 0,50 a 95 mm²).