Existe um dado interessante e talvez um pouco cruel de se destacar que é: quando uma economia diminui de tamanho os barcos aumentam de comprimento. A concentração de renda não é um fenômeno dos tempos de hoje e a fabricação de yachts pode perfeitamente garantir que durante algumas décadas, os ricos fiquem mais ricos e os pobres mais pobres. Daí a conclusão de que o tamanho médio do comprimento dos barcos tem crescido constantemente nas últimas décadas em todos os países.
Quando eu comecei a trabalhar como construtor de barcos, o maior modelo disponível era uma lancha de 32 pés. Ter um barco deste tamanho era um mega sinal de status, mesmo porque não existia muito tipo de motorização e equipamento disponível para um barco assim. O tempo foi passando e recentemente me deparei que ter um barco de 60 pés é “lugar comum”. Existem hoje centenas de modelos que você pode adquirir e fabricantes de barcos seriados que oferecem inúmeros opcionais e garantias para se adquirir um barco desse porte. Recentemente, alguns estaleiros passaram a oferecer modelos de 80 a 90 pés que são feitos um atrás do outro. Nem sempre o dono do barco gosta que “o amigo” do lado tenha um igual, então muitos construtores passaram a oferecer barcos acima de 100 pés com um toque individual. O problema (ou a vantagem) é que fica inviável construir um conjunto de formas para amortizar um produto deste. A saída é fabricar um molde temporário onde se pode tirar alguns barcos, ou apenas um, no caso do dono do projeto ser muito detalhista e querer um só barco onde será retratado todos os seus desejos.
A maior parte dos consumidores escolhe um modelo que é vendido em série, entretanto, o que se nota hoje em dia é o crescimento de um público que já sabe o que quer em um barco, e pode pagar por isto. Normalmente, não compensa investir em um ferramental de moldes para a construção de um barco fora de série. Antes de mais nada, o aspecto econômico da fabricação dos moldes é fundamental e eles são geralmente construídos quando se pretende fazer uma série de peças. No caso de barcos, mais do que quatro ou cinco unidades já são suficientes para que a maioria dos construtores opte pela fabricação de um barco através de moldes. No caso dos modelos únicos, gastar tempo e dinheiro com modelos não é inteligente porque a qualidade de um barco construído nesse sistema pode ser tão boa ou mesmo muitas vezes superior aos fabricados em série.
No desenvolvimento do projeto de um barco para uma pequena série de produção, alguns construtores optam pela construção de um plug fêmea de madeira, acabado pelo lado interno, que pode ser suficiente para laminar alguns cascos, sem todo o trabalho de fabricar um plug e moldes de fibra.
A construção de um plug de madeira requer basicamente o mesmo método utilizado para a construção de um molde macho ou um casco de madeira moldada. Inicialmente as cavernas transversais são cortadas com um desconto que irá representar a forração do modelo, a fim de serem mantidas as características geométricas do projeto do casco. Normalmente se costuma usar MDF, que é um produto estável e ambientalmente mais aceitável do que madeira. Estas cavernas são espaçadas a partir de um comprimento constante, normalmente menor do que 1 metro, e são colocadas sobre um piso nivelado. Depois de todas ajustadas e posicionadas na posição 100% vertical uma serie de sarrafos de madeira são aplicados longitudinalmente sobre elas formando uma “gaiola”. O posicionamento destas ripas deve criar superfícies contínuas e bem suaves. Neste ponto já é possível imaginar como o casco vai ficar depois de pronto.
Sobre estas ripas são aplicados painéis de madeira prensada do tipo MDF ou algum outro produto sintético que tenha uma superfície lisa e polida pela face interna onde vai ser laminado o casco. Nas emendas destes contraplacados é aplicada massa e sobre a junção, uma fita plástica para vedar a superfície interna do molde.
Como a maioria destes barcos acima de 100 pés são construídos pelo processo de infusão, é extremamente importante que toda a superfície interna esteja vedada para impedir a passagem de ar. Se o construtor for realmente bom, a superfície deste molde vai estar 99% perfeita se comparada a um molde de fibra de vidro. Como a maioria destes barcos são pintados de cores exóticas, algum trabalho de lixa e tinta é obrigatório então, nem sempre eles são impressos em gelcoat. A técnica não é difícil mas necessita de alguma experiência e cuidado, mas os resultados compensam. O melhor disto tudo é que construir um barco único é um “must” para o cliente e também muito divertido para o construtor!