Vizinha a tesouros britânicos e atual hype alternativo, a marina St. Katherine’s Docks, em Londres, abriga alguns dos maiores barcos da Inglaterra
São o que? Meros 100 metros da Tower Bridge e um simples atravessar de rua (ponte, no caso) da Tower of London, dois dos mais emblemáticos tesouros turísticos da capital inglesa. Ainda assim, a graciosa St. Katherine’s Docks consegue a façanha de passar praticamente anônima a radares menos atentos, como uma espécie de joia escondida da coroa. E é: uma enorme e belíssima marina abrigada, um imenso quadrado que recebe embarcações de todos os tipos vindas do rio Tâmisa, logo ali do lado. Aliás, embora seja uma doca “democrática”, não é exagero dizer que o “PIB” náutico da Inglaterra – talvez do Re ino Unid o – derruba âncoras aqui, tamanha a concentração de grandes iates.
Além disso, St. Katherine’s Docks é no momento um lugar “in” de londrinos mais descolados, com ótimos bares e restaurantes espalhados ao longo do píer de quilométricas passarelas de madeira que a circunda, muito disputados na hora do almoço e após o expediente de trabalho. Também abriga lojas, butiques, condomínios de ótimo padrão, edifícios comercias e prédios do governo (que loca os apartamentos). E pubs, claro. “Meu favorito é o The Dickens Inn”, adianta-se a analista de RH Jessica During. “Ele fica num antigo armazém do século 18 e é um dos mais antigos ao redor do Tâm isa. H&a acute; lendas de que fantasmas moram nele”, diverte-se. A moça, que vive em Greenwich, atravessa a cidade para beber no Dickens Inn com os amigos. Parte da freguesia, no entanto, mora ou trabalha aqui mesmo, nos modernos condomínios e espaços de co-working distribuídos de frente para a marina, que lhe emprestam uma aura de Monte Carlo Bay, em Mônaco.
O local leva o nome de um ancestral hospital, St. Katherine’s by the Tower, ali construído no século 12. Posteriormente, por volta de 1825, o Parlamento inglês votou por uma redefinição dos arredores, derrubando o hospital e criando uma doca formada por duas baias conectadas, acessíveis pelo Tâmisa. Como outras das muitas docas da época ao longo do famoso rio, era administrada pelo Port of London Authority, mas nunca chegou a ter a relevância comercial das demais. Durante a Segunda Guerra, foi implacavelmente bombardeada por aviões da temida Luftwaffe nazista, sendo praticamente varrida do mapa.
Reconstruída, apesar de seus grandes armazéns, permaneceu meio sem função até 1968, quando foi fechada por conta da incapacidade de receber navios de grande porte. Em 1980, foi aprovado um plano para uma estação de metrô (Tower Hill) nas imediações, o que deu novo impulso ao entorno. A configuração atual começou a tomar forma a partir de 2008, sob a batuta da gigante Max Property Group. Hoje, a marina é comandada pela também gigante Camper & Nicholsons, secular (1782) operadora de marinas de luxo em quatro continentes: Europa, América do Norte, Ásia e África.
Para quem navega do Tâmisa, o sistema para adentrar (ou deixar) a baía é relativamente simples: toca uma sirene de alerta, uma ponte móvel é levantada, e veleiros, iates e embarcações de diferentes tamanhos ancoram. Em total segurança, já que St. Katherine’s oferece proteção contra as fortes correntezas do rio. Praticantes de stand up e caiaque também são parte da paisagem, sem precisar pagar pela diversão. Além de funcionar no dia a dia como mercado informal de compra e venda de barcos, a marina hospeda ao longo do ano diversos eventos náuticos. Um dos mais aguardados é o já célebre The Classic Boa t Festiv al, dedicado exclusivamente a barcos vintage. Colorido, festivo, o evento acontece em setembro – em 2020 completa sua 12ª edição. Também é palco da largada e chegada de outro evento não menos exponencial, The Clipper Round the World Yacht Race. Além destes, aos finais de semana faz jus a seu perfil alternativo, abrindo espaço para o descolado The Good Food Market, famosa feira de produtos orgânicos comprados fresquíssimos das mãos dos produtores.
Morando há quatro anos na marina em um barco-casa com seu cão Ziggy, o holandês Dirk Visser, 37 anos, webdesigner free-lancer, não troca seu CEP londrino por nada. E resume o astral de viver a bordo no coração de Londres. “Quando não quero trabalhar no barco, uso o espaço co-working aqui em frente. O aluguel para atracar é barato, e há sempre gente muito interessante no convívio diário, é o perfil do pessoal dos condomínios. Além disso, estou a dois passos do centro de uma das cidades mais desejadas do planeta. O que mais posso querer”?
Por Carlos Eduardo Oliveira, de Londres
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