Os superiates e os satélites espaciais podem não ter muito em comum, mas o Sea Eagle II, do estaleiro holandês Royal Huisman, o maior iate à vela de alumínio do mundo, foi projetado usando as mesmas técnicas de engenharia usadas no desenvolvimento de missões espaciais da ESA, European Space Agency.
Lançado em 7 de janeiro de 2020, no estaleiro da Royal Huisman em Vollenhove, na Holanda, o super veleiro Sea Eagle II, de 81 m de comprimento, foi transferida para as instalações da empresa em Amsterdã, onde foi colocado seu mastro de carbono antes iniciando testes no mar, a frente da entrega que deve acontecer no final deste ano. Isso pode parecer comum para na construção do sétimo maior super veleiro do mundo, mas por trás do acabamento polido de seu casco há algumas ideias tiradas do mundo da engenharia espacial.
De acordo com a ESA, o que diferencia o Sea Eagle II de outros veleiros de mesmo porte é que ele foi projetado e desenvolvido usando as técnicas da agência espacial criadas no Concurrent Design Facility (CDF) em Noordwijk, na Holanda. Essencialmente, o design simultâneo abandona a abordagem tradicional de engenharia de projetar e construir algo em etapas separadas – em vez disso, todas as etapas são desenvolvidas do primeiro ao último simultaneamente, para que as equipes possam ser informadas dos problemas e soluções à medida que o trabalho avança.
“Satélites e superiates são máquinas complexas, e a engenharia simultânea é vantajosa no design de qualquer sistema complexo”, diz Massimo Bandecchi, fundador do CDF. “A ideia básica é simples: reunir todos os especialistas e ferramentas de design necessários em uma única sala para trabalhar juntos como uma equipe em um modelo de software compartilhado que é atualizado imediatamente à medida que as alterações são feitas, para avaliar a viabilidade do projeto e as vantagens e desvantagens de uma maneira muito mais eficaz e confiável”.
“Enquanto nosso foco principal é atender às necessidades de engenharia da ESA, também houve um grande interesse da indústria em nosso trabalho. O desempenho aprimorado da engenharia simultânea em termos de tempo, custo e eficiência fala por si só.O resultado é que mais de 50 centros têm foi construído de acordo com o modelo CDF original da ESA e agora está em operação em toda a Europa, a maioria no setor espacial, além de cerca de 10 centros não espaciais”.
Para a construção do Sea Eagle II, Stefan Coronel, gerente de design e engenharia da Royal Huisman, foi treinado por Massimo e sua equipe para aprender todos os detalhes do design simultâneo, que a equipe de Coronel, por sua vez, poderia adaptar em situações peculiares da construção naval.
“A construção de iates não é como a de foguetes, mas envolve um sistema complexo e multidisciplinar, com muitas trocas a serem decididas”, diz Coronel. “O método tradicional de design ‘over the hedge’ – onde um campo de conhecimento faz seu trabalho e o envia para a próxima equipe em sequência – exige a verificação subsequente do feedback e os possíveis ajustes de design, portanto, é um processo demorado. No mundo moderno da construção dos estaleiros, não há muito tempo de sobra”.
Ele ainda explica que a diminuição do tempo de construção é dramática, mas que não necessariamente esse é o foco principal. A qualidade do produto final é claramente muito melhor e mais completa, dando ao estaleiro mais segurança para seguir com a construção.
Atualmente a Royal Huisman este método em todos os seus novos projetos, bem como em refits e manutenção de modelos antigos. Isso envolve dividir o trabalho em subsistemas, como é feito em missões espaciais. O pessoal das principais disciplinas do design de iates participa de todas as sessões de desenvolvimento, incluindo resistência e rigidez estrutural, manuseio de convés e vela, propulsão, energia, aquecimento, ar condicionado; eletrônica e design de interiores. Além disso, especialistas em questões periféricas, como ruído e vibração, são contratados conforme necessário.
