Desde que a população ao redor do mundo passou a ficar em casa para enfrentar a pandemia de Covid-19, impactos positivos têm sido observados na natureza. A melhora considerável na qualidade do ar das grandes cidades talvez seja o exemplo mais palpável. No entanto, nesta sexta (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, este fato afasta a sociedade de comemorações, colocando-a frente a frente com o desafio de, no pós-pandemia, desenvolver hábitos sustentáveis.
Um estudo de cientistas australianos, publicado na revista científica Nature Climate Change, apontou que as emissões de CO2, uma das causas do aquecimento global, caíram bruscamente em 69 países.
Em abril, A Tribuna mostrou que dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) apontavam queda nas concentrações de poluentes a partir de 23 de março, quando foi adotada a quarentena no Estado.
Mas especialistas dizem que essa conquista – meio sem querer – não deve durar depois que as atividades forem retomadas. Ainda assim, é preciso aprender com o fato de percebermos, agora, o quão nocivo o ser humano pode ser para a natureza.
Lição sobre o Meio Ambiente
Para o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, esse impacto positivo da quarentena na qualidade do ar deve servir de lição para o homem perceber como pode fazer mal à natureza.
Por isso, em sua opinião, uma das principais pautas que precisam avançar é a mudança da matriz energética, valorizando fontes menos poluentes como o etanol, além de tornar realidade o sonho de políticas de emissão zero de gases que provocam o efeito estufa.
No entanto, Penido reconhece que os avanços na pauta ambiental ainda não acontecem no ritmo que deveriam. “Toda vez que entramos em uma crise, as pesquisas diminuem. Mas se olharmos o mundo inteiro, houve avanços, mas não tantos”.
Para o jornalista e coordenador de Políticas Ambientais da Secretaria de Meio Ambiente de Santos, Marcus Fernandes, o isolamento propiciou uma certa redução em situações como a poluição atmosférica, mas os níveis devem retornar ao patamar anterior assim que a normalidade se impor.
Por isso, na opinião dele, é importante que já agora a população tenha mais consciência e fique atenta às questões ambientais. Até porque, de acordo com Fernandes, a pandemia deixou em segundo plano ações de fiscalização e conservação, com impactos, por vezes, irreversíveis, principalmente em se tratando de áreas de preservação e mananciais.
“Precisamos caminhar para uma sociedade que valorize menos o momento, o hoje, o agora, o ter em detrimento do ser. Afinal, não somos meros consumidores. Somos criaturas fruto do meio e quando mais degradado for o que nos cerca, mais pobres, tanto de espírito como de posses, seremos”.
Resíduos e Mata Atlântica entre prioridades
Marcos Libório é presidente do Fórum de Meio Ambiente da Baixada Santista, que reúne secretários e ex-secretários da pasta. Segundo ele, hoje, entre as principais pautas comuns aos nove municípios da região estão a questão da gestão de resíduos, combate ao lixo no mar, mudanças climáticas e a preservação da Mata Atlântica, dos mangues e combate às invasões.
A fragilização das regras de proteção ambiental, principalmente em relação à Mata Atlântica, é algo que preocupa. “A Baixada Santista está inserida na Mata Atlântica e a preservação deste bioma tão agredido tem relação direta com nossa qualidade de vida e saúde”, diz. Atualmente, segundo Libório, há menos de 12% de toda a mata original.
Batalha
Ele explica que um despacho do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no final de abril, trouxe grande preocupação, pois além de fragilizar a fiscalização e enfraquecer o sistema de proteção, tendia a anistiar multas por invasão de protegidas na Mata Atlântica lavradas antes de 2008.
“Realizamos reuniões e encontros, e buscamos o apoio da deputada Federal Rosana Valle (PSB), que, por sua vez, intermediou um encontro com o deputado Rodrigo Agostinho (presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara), e com o deputado estadual Caio França, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alesp. Foi emitido um manifesto/carta aberta, demonstrando a nossa preocupação”, conta Libório.
Depois de várias manifestações como a da região, nesta quinta-feira (4), o ministro revogou o ato.
Fonte: A Tribuna