Destroços de uma embarcação com mais de 50 metros de comprimento foram localizados na orla de Santos, no litoral de São Paulo, nesta terça-feira (22). A erosão na faixa de areia da Praia do Embaré provocou o aparecimento de parte da estrutura de um possível navio, que pode ter encalhado ali há mais de um século.
Funcionários da limpeza urbana depararam-se com os destroços nas proximidades da mureta do Canal 5, à beira do mar, no início da manhã. Equipes da Prefeitura de Santos foram deslocadas até o local e, com a maré baixa, constataram a descoberta de pedaços de madeira e metal, no formato do casco de um barco.
“Esse navio estava enterrado ali há muito tempo e, com o rebaixamento da areia, acabou ‘aflorando’. Pela mureta do canal, por onde passa parte da estrutura desse barco, dá para ver que mais de 1,5 metro de areia foi rebaixada nessa área”, explicou a sub-prefeita da região da orla, Fabiana Ramos Garcia Pires.
Segundo a representante da prefeitura, a administração municipal não tem registros recentes de encalhes ou naufrágios naquela região da orla. “Tanto é que todos foram surpreendidos. Verificamos nossos históricos, mas não há nada que indique o que houve ali, ou qual é, de fato, essa embarcação”, disse.
A esperança, segundo Fabiana, é que a Marinha do Brasil tenha alguma informação sobre o que e quando aconteceu. Por isso, a Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP) foi notificada sobre a localização da estrutura e enviou peritos ao local para iniciar uma investigação que possa identificar o navio.
Vapor Glória?
O jornalista José Carlos Silvares, autor do livro “Naufrágios do Brasil”, desconfia que os destroços são do vapor Glória, que aparece em telas do pintor Benedicto Calixto, encalhado na orla santista em 1909. O tamanho da embarcação, assim como os materiais encontrados pela prefeitura, fortalecem a suspeita.
“Vemos nas imagens o cavername, que é a parte de baixo do navio. Geralmente, a construção dessas embarcações, nessa época, era em madeira por dentro e ferro ou aço por fora. Parece também que a proa do navio está virada para a Ponta da Praia, enquanto que a popa está sentido São Vicente”.
Os canais de Santos, que integram a modernização do plano de saneamento da cidade a partir do último século, começaram a ser construídos em 1907. O Canal 5, segundo informações oficiais da prefeitura, foi erguido em 1927, provavelmente sobre os destroços do navio encalhado, descobertos por acaso nesta terça-feira.
Para o prático em atividade mais antigo do Brasil, Fabio Mello Fontes, trata-se de uma embarcação construída antes de 1930. “Ferro e madeira não foram mais usados depois desse período, por isso, deve ter mais de 100 anos. Certamente é uma embarcação muito antiga, que ainda requer investigação minuciosa”, disse.
Recreio
A aproximadamente mil metros dali, na orla da Ponta da Praia, estão os restos do navio Recreio, que encalhou na faixa de areia durante uma tempestade, em 26 de fevereiro de 1971. A embarcação ficava fundeada na Praia do Góes, em Guarujá, e se soltou das amarras enquanto ocorria o temporal na Barra de Santos.
Sempre que a maré baixa, os destroços do casco do navio, que nunca foram retirados por completo, são revelados. “Vamos manter o mesmo procedimento que ocorre no Recreio, isolar a área para proteger os banhistas e evitar acidentes. Estacas de madeira e fitas vão orientar as pessoas ali”, explicou Fabiana Pires.
Fonte: g1.globo.com