O corrico é uma das modalidades mais praticadas por pescadores esportivos, seja em alto mar ou próxima da costa. É a chamada pesca horizontal.
Esse tipo de pescaria se resume, essencialmente, em rebocar/arrastar, na popa do barco, iscas naturais ou artificiais que atraem os predadores marinhos encontrados próximos da superfície, como cavalas, atuns, barracudas, xaréus, sororocas, dourados, sailfishs e muitos outros.
Normalmente, nas embarcações com até 26 pés, é possível corricar com no máximo seis linhas na água, sendo que de duas a quatro é um número adequado ao pescador iniciante, para evitar o enrosco. Há pescadores mais experientes e muito técnicos que chegam a corricar com dez linhas, mas é uma exceção.
No corrico em mar aberto utiliza-se carretilhas, de preferência, sem guias de linha (devanadores) para diminuir o atrito, com capacidade para no mínimo 300 metros de linha 0,50/0,60 mm (40 a 80 lbs), seja de multifilamento ou de monofilamento, o que é suficiente para a captura da maioria dos peixes do litoral brasileiro com peso máximo de 30 quilos e uma média de 3 a 10 quilos (com exceção dos grandes marlins, albacoras de laje e alguns outros que exigem material mais robusto e técnica específica).
O ajuste correto do freio da carretilha (fricção) é de suma importância para evitar que o peixe se solte ainda quando da ferrada na isca. Uma fricção frouxa ou apertada demais vai fazer com que as garatéias não se fixem na boca do peixe ou se abram, respectivamente, ou mesmo estourem a linha, como vários são os relatos de pescadores nesse sentido.
Muitos falam que deve-se ajustar o freio da carretilha no valor de 1/4 da resistência da linha, ou seja, se esta for de 20 quilos, o freio deverá ter resistência de 5 quilos, o que pode ser aferido com uma balança de mão. Durante a pescaria, muitas vezes desregulamos o freio por acidente e realizar esse procedimento com uma balança para novamente ajustar a fricção, no vai e vem do barco em mar aberto, não é tarefa fácil. Portanto, esse ajuste, com o passar do tempo e ganho de experiência, será feito pela própria sensibilidade do pescador, puxando-se a linha com a mão e sentindo se a resistência do freio da carretilha está adequada à resistência de todo o conjunto (linha, vara, garatéias).
Um salva varas, cordinha usada para prender o equipamento (vara e carretilha) ao barco, é bastante útil e evita a perda do conjunto, no caso de eventual acidente que provoque a queda dele na água. Todavia, deve-se utilizar cabos de tamanho suficiente ao manuseio da vara na praça de pesca, sem exagerar no comprimento para não causar embaraço durante a briga com o peixe.
Os outriggers, mecanismos apropriados para afastar as linhas da embarcação, usados em lanchas de maior porte, nos barcos menores podem ser facilmente substituídos por suportes de varas com inclinação para fora da borda, em forma de “T” e com ângulo de 45º, os quais também ajudam a espalhar as linhas, distanciando-as umas das outras.
Já os downriggers servem para descer as iscas do corrico para profundidades maiores do que são projetadas para afundar. De modo simples, o downrigger é um carretel com um peso na ponta da sua linha/cabo que preso a linha de corrico força a sua descida a profundidades maiores que 30 metros e, quando o peixe pega a isca, esse peso do dowrigger se desprende da linha da vara, liberando-a para que o pescador trabalhe sua presa com liberdade. É um recurso extremamente eficiente quando os peixes de superfície estiverem afundados ou mesmo para engatar bons peixes de fundo, como ciobas, badejos e outros. Outro recurso que serve para afundar a isca de corrico, assim como os downriggers, é o planner, uma peça de metal que fica entre a isca e a linha leader.
Atualmente, as linhas de multifilamento, assim como na pesca vertical, são usadas com excelentes resultados também na modalidade de corrico, principalmente por serem mais resistentes que o nylon (de mesmo diâmetro) e por não terem nenhuma elasticidade, o que aumenta a possibilidade de “ferradas” mais precisas. Desnecessário, contudo, preencher todo o carretel com multifilamento, bastando montar uma “cama” de monofilamento e preencher o restante, em torno de 1/3 da capacidade do carretel, com linha de multifilamento.
Também, para melhor eficácia no corrico, se faz necessária a colocação de um leader de monofilamento de fluocarbono ou mesmo de nylon, de 6 a 10 metros, para camuflar a coloração da linha de multifilamento e diminuir a vibração causada por esta linha, que afasta os peixes da isca. Para águas mais turvas, próximas da costa, bastam 6 metros de leader, porém, se for corricar em águas azuis, oceânicas e bem mais claras, recomenda-se 10 metros de leader.
O leader também serve para dar um pouco de elasticidade ao conjunto, especialmente à linha de multifilamento, firmando ainda mais a fisgada do peixe.
As iscas mais modernas que imitam peixes, como os plugs (peixes artificiais) feitas de plástico ABS, tendem a substituir as iscas naturais pela praticidade, assim como as lulas artificiais também são utilizadas no corrico, ambas com muita eficiência. As naturais, contudo, continuam proporcionando excelentes resultados, principalmente as agulhas – farnangaios – muito usadas para peixes de bico, assim como tainhas, paratis, peixes-voador, lulas e outros.
As iscas de corrico podem ser de superfície, de meia água e de profundidade. Para melhor performance recomendamos o uso de iscas novas e bem acabadas, com recursos holográficos e brilhantes, as quais são bem mais atrativas aos olhos dos peixes do que as iscas usadas, com as cores já envelhecidas ou estragadas pelos ataques dos peixes com dentes afiados.
No mercado brasileiro encontramos ótimas iscas da Rapala, da Sumax, da Deconto, da Mustad e de outras marcas. Como exemplo, temos as ralapas X-rap 30, as Sumax River king, as Salminus da Century, todas de profundidade e muito produtivas no corrico.
Ainda, quanto ao uso das iscas, existe a possibilidade de corricar com poppers (iscas destinadas ao arremesso – de superfície). Segundo o amigo Eduardo Pelegrini, Olhetes, Dourados e Anchovas entram muito bem no corrico, com tais iscas, na Região Sudeste. Nesse caso, desenvolve-se uma velocidade bem mais baixa, em torno de 4 nós (7 km/h – aproximadamente), dando toques com splashes. Segundo o pescador, “os bichos chegam a engolir quase que o popper inteiro”.
Alguns plugs (de meia água e de profundidade), ainda que novos, costumam não trabalhar corretamente girando em torno do seu eixo, saltando da água ou nadando na perpendicular, o que os faz enroscar nas outras linhas. Nesta situação, o pescador deve corrigir o problema, normalmente amassando o pitão da isca com um alicate, para o lado contrário ao que está nadando a isca. Para tanto, quase sempre é preciso tirar e colocar a isca na água várias vezes, até corrigir o nado tendencioso e errático. Vale dizer, e é importante, que os plugs não devem girar na água, mas sim nadar corretamente em linha reta.
O uso de empate de aço deve ser evitado, sendo apenas necessário no caso de haver bastante peixe de “corte”, como cavalas, sororocas, barracudas e, ainda assim, deve-se colocar o empate na isca de no máximo 15/20 cm. Se for corricar com 4 linhas, deixe duas delas sem empate de aço, pois assim aumentará as chances de ataques e reduzirá as perdas de material. Porém, se eventual perda de isca não for por demais dispendioso ao pescador, recomendamos severamente não usar empates de aço, o que aumentará consideravelmente os ataques dos peixes, principalmente das grandes cavalas wahoos que são bem manhosas e ariscas, possuindo uma excelente visão.
Também é de suma importância utilizar linhas, leader e principal, as mais finas possível, desde que tenham resistências adequadas ao conjunto (carretilha-varas) e aos peixes da região. Para dar exemplo, em nosso caso aqui na costa da Paraíba, onde normalmente encontramos peixes de até 30 kgs, usamos linhas de multifilamento de bitolas que variam de 0,36 a 0,42mm e leader de fluocarbono de 0,50 a 0,70mm, com resistência de 30 a 60 libras.Leaders de bitola fina e de fluocarbono contribuem consideravelmente para aumentar os ataques dos peixes, eis que se tornam quase invisíveis na água e deixam o nado das iscas mais realista, facilitando o trabalho delas na água.
Para prender a isca artificial (plugs/peixes) ao leader não é necessário o uso de destorcedores, mas apenas uma peça chamada de “snap” que nada mais é do que uma espécie de grampo de aço inox.
Varas para corrico normalmente têm tamanhos que variam entre 1,60m a 1,80m, sendo recomendável as que têm passadores de roldanas, ao menos o primeiro da ponta da vara e o último. A resistência delas deve estar entre 40 e 80 libras e devem ser de ação rápida a média, ou seja, que envergam do meio para a ponta da vara.
A disposição, a distância, a configuração das linhas na água e o tipo de iscas são fundamentais para o melhor desempenho dessa pescaria. Como exemplo, vamos imaginar o corrico com quatro linhas. Nesse caso, deve-se necessariamente colocar na água, em sequência, primeiramente as linhas das laterais do barco, que ficarão mais distantes que as outras duas, em torno de 40 a 60 metros da popa, e serão montadas com as iscas de meia água ou de superfície (lulas).
As duas varas do meio da embarcação deverão estar montadas com iscas de profundidade e ficarão mais perto, numa distância de 20 a 30 metros da popa do barco. Essa configuração é importante porque evita o enrosco das linhas e consequente perda de tempo durante a pescaria para desvencilhar os nós. Assim, recomenda-se que apenas um pescador seja responsável por colocar as iscas na água e na sequência indicada, ou seja, primeiro as linhas laterais mais distantes do barco e, depois, as linhas da popa que ficarão mais perto e trabalharão as iscas de maior profundidade.
Na hora de recolher as linhas, também é fundamental que se observe a ordem inversa, com exceção da(s) vara(s) com peixe fisgado que têm prioridade. Primeiramente se recolhem as linhas mais próximas do barco e depois as mais distantes. Nessa ocasião, a participação dos demais pescadores é importante para retirar da água as linhas sem peixe e “limpar a área” o mais rápido possível para que o pescador (ou pescadores) que estiver(em) com peixe na linha possa(m) “trabalhar” com liberdade e brigar com o seu troféu.
Ainda, com vista a evitar o enrosco das linhas, além do uso adequado das iscas e da ordem correta de soltura, as curvas feitas pela embarcação devem ser abertas o suficiente para que as linhas atrás da popa não passem por cima das outras, portanto não se deve dar a volta no barco em ângulo muito fechado.
Embora os peixes sejam ativos durante todo o dia, os melhores e mais produtivos horários para corricar vão das 5 hs às 10 hs da manhã e das 2 hs às 5:30 hs da tarde, ocasião em que eles estão mais próximos da superfície. Normalmente, nesse período das 10 hs às 14 hs, os peixes afundam por causa do sol forte.
A velocidade de corrico, a depender das condições de mar e de navegação, pode variar de 8 a 15 km/h, sendo que 12km/h é uma velocidade média bastante adequada para a maioria dos peixes de corrico.
Outra dica muito importante que serve para garantir a produtividade da pescaria de corrico e assegurar a fisgada do peixe, diz respeito ao momento de parar o barco ao “bater” peixe na linha. Nesse aspecto, deverá o comandante da embarcação, quando perceber tocar o alarme de uma das carretilhas, continuar na mesma velocidade ou até acelerar um pouco por alguns segundos, para confirmar a ferrada do peixe, bem como para permitir que outros peixes do cardume ataquem as demais iscas ainda em movimento.
Aliás, é preciso deixar a linha que estiver com peixe sempre tensionada, sem afrouxar. Para tanto, recomenda-se não parar totalmente a embarcação, mas deixar o motor em marcha lenta, avante, guiando em direção contrária ao peixe, se possível com a proa a sotavento. Nesse caso, o piltoto deve ter o cuidado especial de não deixar o peixe passar por debaixo da embarcação, sob pena de aumentar as chances de arrebentar a linha ou mesmo abrir a garatéia. Então, sempre manter o barco afastado da linha.
Essa modalidade de pescaria, o corrico, pode ser praticada próxima da costa até a beirada da plataforma continental. Em qualquer dos casos, seja na costa ou em águas oceânicas, os cardumes são mais frequentes quando próximos dos parcéis ou de outras estruturas no fundo do mar, em ilhas e até objetos flutuantes que são encontrados na superfície, como galhos, troncos plataformas de petróleo e outros, ou seja, os peixes estão onde há estruturas para lhes dar amparo.
Por isso que a pesca de corrico em mar aberto, além do talude continental, se torna improdutiva sendo mais raros os ataques, excetuando-se eventuais cardumes de dourados, atuns e outros que nadam a ermo, em águas oceânicas, porém mais difíceis de encontrar na imensidão azul.
Em áreas muito desertas, sem formações rochosas no fundo do mar, alguns pescadores implantam “atratores de fitas”, em profundidades de 40 a 70 metros, os quais são bastante eficazes reunindo peixes ao seu redor, como dourados, cavalas e atuns, garantindo, assim, ótimos resultados na pesca do corrico.
Uma técnica que aumenta a produtividade da pesca de corrico é a de marcar no GPS todos os pontos em que houver ataques nas iscas. Monta-se, dessa forma, uma “constelação” dewaypoints e, da próxima vez que o pescador for corricar, recomenda-se passar por estes pontos anteriormente marcados, que são potenciais pesqueiros na superfície.
Estas dicas e informações vão tornar a pescaria de corrico no mar mais produtiva e eficiente.
Foto: Baitrodreel, Bnrcharters, Kayakfishingmagazine