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Experiência e regularidade são as armas de Scheidt na busca da sexta medalha olímpica

Armas de Scheidt

Aos 43 anos, maior medalhista do Brasil da história dos Jogos vai usar o tempo como aliado no Rio de Janeiro para lutar pelo tricampeonato olímpico.

Tempo. De modo geral, tempo é a medida da passagem das horas, dias, meses, anos, décadas…, mas também está relacionado à meteorologia. Para um velejador, há ainda o fator velocidade. Quem garante ‘tempos’ melhores, vence. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a partir de 5 de agosto, ninguém encarna melhor essa relação com o tempo que Robert Scheidt. Aos 43 anos, será o atleta mais velho da classe Laser na Olimpíada e vai duelar com competidores até 20 anos mais jovens. E se levar um corpo quarentão ao limite em seis dias, com regatas duplas, na Baia da Guanabara, exigirá esforço máximo, a experiência acumulada em horas, dias, meses, anos, décadas no mar, lidando com o vento em todos os continentes, será sua maior arma. O tempo, em suas diferentes vertentes, no final das contas, não é inimigo de Robert na jornada rumo ao tricampeonato olímpico, mas um grande aliado.
Bicampeão olímpico e maior medalhista do Brasil nos Jogos, com cinco medalhas, Robert Scheidt alia técnica, raça (palavra que sempre escreve no mastro de seus barcos), dedicação, talento e muita experiência. O iatismo entrou em sua vida aos 9 anos de idade e ao longo de 34 anos de carreira, ele aprendeu que regularidade é a maior arma para conquistar um lugar no pódio. Os números comprovam. Nas campanhas do ouro em Atlanta, prata de Pequim e bronze de Londres, ele esteve entre os 10 primeiros em todas as regatas. Em Atenas, onde também foi campeão, foi top 10 em nove entre 11 provas, enquanto em Sydney chegou ao segundo lugar chegando entre os 10 primeiros sete vezes ao longo da disputa.
Em 2016, ano de sua sexta Olimpíada, Scheidt soma dois títulos consecutivos. Após vencer, no começo de janeiro, o Brasileiro de Laser, no Rio de Janeiro, o velejador conquistou, no fim do mesmo mês, seu sexto título em Miami da Copa do Mundo de Vela. No início de abril, garantiu a prata no Troféu Princesa Sofia, em Palma de Mallorca na Espanha. Na disputa do Campeonato Mundial de Laser, em maio, em Nuevo Vallarta, no México, ele terminou em 10º lugar. Na carreira são 175 títulos – 86 internacionais e 89 nacionais – além de cinco medalhas olímpicas (duas de ouro, duas de prata e uma de bronze).
Casado com a lituana Gintare, que também disputará os Jogos do Rio na classe Laser Radial, Scheidt tem dois filhos e mora na Itália. Ele chega ao Rio no dia 26 deste mês.
Nesta entrevista, o bicampeão olímpico, patrocinado pelo Banco do Brasil, Rolex, Deloitte e Audi, com os apoios de COB e CBVela, fala de sua preparação e expectativas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Foto: Fred Hoffmann-Divulgação
Foto: Fred Hoffmann-Divulgação

 

1- Como foi sua preparação para os Jogos Olímpicos do Rio? 
Como estou com 43 anos, uma idade mais avançada em relação aos outros velejadores, o foco do treinamento é muito em cima da prevenção de lesões, nessa volta à Laser. É uma classe em que a coluna e o joelho são mais exigidos e se desgastam mais rápido. Tenho feito exercícios aeróbicos, além de musculação, mais para aumentar a resistência, e não para ganhar massa muscular como na Star. Tenho uma boa programação de exercícios, fisioterapia e acompanhamento durante as competições. Tenho me sentido muito bem, sem dor. Também precisei me reacostumar aos treinos na Laser, porque é uma classe muito solitária, na qual você não tem com quem conversar e trocar ideias. Sempre que posso, convido outros velejadores para treinar comigo.
2- Competir em casa aumenta a pressão pelo tricampeonato olímpico? 
Na verdade, esta é a primeira Olimpíada a que eu chego sem ser favorito. Isso tira um pouco o peso das minhas costas, joga a responsabilidade mais em cima de outros atletas. O fato de a competição ser disputada aqui no Brasil ainda trará uma emoção maior, com o calor da torcida, dos amigos. Além do mais, estou bem acostumado com as cobranças. Tento encarar a Olimpíada como mais um campeonato. O fundamental é se preparar o melhor possível e se manter focado para executar bem aquilo para o que você treinou.

3- Entrar na água sem o peso do favoritismo ajuda? 
Esta será minha olimpíada mais difícil, pelo momento que estou vivendo em função de retornar para a Laser, e o equilíbrio na classe. Claro que vou brigar por mais um pódio, sei que ainda tenho muita lenha para queimar, e estou velejando de igual para igual com os principais adversários. Tenho boas chances de medalha, sim. Mas o meu foco, agora, está em me preparar o melhor possível e treinar de forma a alcançar o auge da minha forma física nos Jogos.

4- O que espera enfrentar quando a disputa começar? 
A disputa da Vela terá seis raias, três dentro e três fora da Baía de Guanabara. Isso é ótimo porque oferece todas as condições de vento e de correntes, e vai exigir muita técnica e versatilidade dos velejadores. A essa altura, os estrangeiros já conhecem a Baía de Guanabara quase tanto quanto os brasileiros. Muitos fizeram longos períodos de treinos e pesquisas no Rio de Janeiro. Será uma competição bem equilibrada.

5- A torcida dos brasileiros pode ajudar? 
As regatas normalmente são disputadas longe da costa. Normalmente, a gente entra em contato com fãs e torcedores antes e depois das regatas, quando recebemos o incentivo ou os parabéns. Na Olimpíada é diferente, a proximidade com o público é maior, e isso conta muito.

6- Você vai se aposentar após os Jogos? 
Tracei como objetivo deixar a vela olímpica após os Jogos do Rio de Janeiro e continuar velejando em classes de barco que exijam menos do corpo e mais da cabeça. Mas posso mudar de ideia… Com certeza não estou pensando em aposentadoria, agora. Quando chegar a hora, vou definir o que fazer.

7- Dentre tantas medalhas, há alguma especial? 
É sempre difícil escolher um só acontecimento. Tive vários momentos que me marcaram muito. Acho que o mais emocionante foi a conquista da segunda medalha de ouro, na Olimpíada de Atenas/2004, porque era uma medalha que estava “engasgada”, por assim dizer, desde Sydney/2000. Também foi emocionante ter sido escolhido porta-bandeira na Olimpíada de Pequim/2008. Ali foi uma emoção diferente, de representar o País, mesmo.

8- E sobre o palco olímpico, qual é a sua expectativa com a Baía de Guanabara? 
Apesar de muito poluída ha vários anos, a Guanabara será um belo palco para as regatas Olímpicas, digo isso pois acredito que o lixo flutuante (que pode comprometer a performance dos barcos) será retirado pelos “Eco Boats”, como no evento teste em agosto passado. Além disso, a Olimpíada acontecerá no inverno, período de menos chuvas e, portanto, menos poluição nas águas da Baía.

9- Você acredita que uma Olimpíada no Brasil pode ajudar a difundir mais esportes como o iatismo? 
Espero Que sim. Eu acredito que a Olimpíada pode trazer uma visibilidade muito maior para a Vela no Brasil, incentivando mais jovens atletas a praticar, além de aproximar o público do esporte.

10- Como é ser o maior medalhista olímpico brasileiro? 
Na verdade, minha ficha não caiu até agora. Ser medalhista no Brasil já é um fenômeno, imagina conquistar 5 medalhas em 5 Olimpíadas? Eu tenho orgulho da minha carreira, mas nunca deitei sobre os louros da vitória. Aliás, acho que as derrotas me ensinaram muito mais do que as vitórias, e se melhorei foi pura vontade de me auto superar, e não a ninguém, ao outro.

Foto: Pedro Martinez-Divulgação
Foto: Pedro Martinez-Divulgação

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